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terça-feira, 18 de maio de 2010

"Escrever é libertador"

Não quero que este blog vire um e-book de auto ajuda. Jamais escreveria algo com essa proposição, pois não faz parte do meu feitio. Só que, embora eu não adote o perfil literário, me percebo escrevendo e dando sentido ao que apazigua meus pensamentos. Todas as cadeias de pensamentos que trazem consigo o caos de uma guerra interior são colocadas em uma caixa de texto e depois eu pressiono o botão "publicar postagem". Simples assim. É o que vem acontecendo com a minha "produção literária" há muito tempo, talvez por serem esses pensamentos (muitas vezes, legítima tortura mental by myself) a demanda principal e mais urgente. É válido, claro, atender ao chamado da própria cabeça e consolar-se escrevendo o que foi exorcizado de dentro de si, "é libertador" como diria um conhecido meu. Escrita como exercício de apaziguamento da psiquê. Porém, o que se faz quando é percebido que a escrita como exercício psicológico é a unica produção? Fica tudo esquematizado: sente dor, pensamentos ruins incomodam e causam desconforto, senta e escreve passando muitos minutos em um transe que proporciona a descrição exata da dor, como se te tornasse por esses momentos a criatura mais apta a descrever o mundo de dentro. Só que, por mais que esse mundo pertença ao interior de si mesma, a criatura consegue descrevê-lo sem distorcer pelas sensações daquele momento? O que está dentro dificilmente sai puro e condizente se for descrito e visualizado quando se está num momento de muita dor ou euforia; tudo se torna da mesma cor. Além do mais, nesses momentos de transe e de exorcismo, o que sai é escasso e fragmentado.
Tá, tudo isso pra dizer: é ótimo escrever pra se libertar, mas esse ato pode acabar provocando vícios e distorções na expressão literária.

2 comentários:

Ale Leonhardt disse...

bá nossa, a perfeita tradução das minhas filosofias matinais rumo a universidade... acordo pensando no que fiz e não fiz e quero, me olho em detalhe na ida a faculdade, monto um post na primeira aula... e se torna uma quase rotina dos dias de tempestade psicológica. e meus posts acabam todos cinzas e molhados de acordo com a chuva que me fustiga

amei hein

Anderson Carnin disse...

"Só que, por mais que esse mundo pertença ao interior de si mesma, a criatura consegue descrevê-lo sem distorcer pelas sensações daquele momento? O que está dentro dificilmente sai puro e condizente se for descrito e visualizado quando se está num momento de muita dor ou euforia; tudo se torna da mesma cor. Além do mais, nesses momentos de transe e de exorcismo, o que sai é escasso e fragmentado".

Ei, senhor tempestade, eu não concordo que tudo se torne da mesma cor... Visto que, como bem apontas ao longo de tuas postagens, somos [és?] seres complexos, tudo aquilo que conseguimos externar via linguagem é apenas uma parte - embora muito significativa - bastante pequena do grande calidoscópio de pensamentos, emoções, sensações, psiquê, enfim, de tudo que nos constitui. Nossos pensamentos [e emoções, e “tudo o que sai” e etc.] são, invariavelmente, fragmentos, são os cacos coloridos, recortados e pintados com atributos variados [“sensações daquele momento”?], que formam o nosso grande calidoscópio. Cada giro pode gerar nova cena, num jogo óptico sucessivo de reflexos que formam imagens em constante mutação. Assim, esse “escrever libertador” [e o que ele representa] pode ser considerado um giro óptico do [teu?/nosso?/meu?] calidoscópio. E, obviamente, cada giro forma uma nova imagem, uma nova representação, intimamente ligada ao momento e ao modo como tua percepção a permite observar. E a minha, intrometida, também me permite e fez vir aqui comentar..

Enfim, se consideras que “é ótimo escrever pra se libertar, mas esse ato pode acabar provocando vícios e distorções na expressão literária”, e se tudo o que tentei alinhavar acima fizer sentido, talvez “escrever para se libertar” possa ser simplesmente manusear um calidoscópio de visões multifacetadas e, com isso, olhar por uma interminável teia de saberes , emoções e verdades, acrescentando, se possível, mais um pedaço, no tom que for lhe mais admirável. Ou não...

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