Pages

domingo, 16 de maio de 2010

Together we won't dance in the dark.


Há uma solidão intrínseca aos homens. Ela os corrói sem lhes dar chances de descansar em paz. Os persegue além da morte e os consome aquém do túmulo. Quando percebem a existência dessa solidão, recebem uma tocha para que seu caminho seja precariamente iluminado pela chama do objeto. E essa chama vai se extinguindo, até devolver o homem ao ponto de início: a escuridão total. O homem caminha e escuta o eco de seus passos; mesmo sem saber onde estão os muros, onde estão os limites, eles existem. Eles existem para fazer com que o caminho seja cheio de expectativas, será que o fim é este? Não ouço mais o eco, e agora? Meus passos não me levam a nenhum lugar novo. Não há como saber se se está caminhando em linha reta, para frente ou para trás, em círculos. E pior, não há como saber se o movimento de fato acontece. Os olhos procuram a luz e ela os abandona quando a tocha se apaga. Ninguém quer devolver a tocha, mesmo que ela vá durar por pouco tempo dentro da jornada; uns tentam achar outros. Eu quero te achar no meio disso tudo e tu queres me achar, mas não nos vemos, não nos sentimos e o eco continua, perpétuo, dando a certeza de que o ambiente está vazio exceto pelo homem que caminha. Os pensamentos fazem muito barulho, eles deveriam iluminar tudo e fazer com que tudo ficasse agitado, mas não, nada muda. Os pensamentos ecoam por dentro, nada diferente do que ocorre fora do corpo, no caminho escuro e solitário. A tocha se apaga, a escuridão se acende. Um dia eu encontro o muro, eu vou encontrar algo em que eu possa me escorar, não é mesmo?

Por momentos as estrelas podem ser vistas, e nesses momentos se percebe: onde está o teto? Não há nenhum teto. Elas não estão no teto, elas estão... longe, e só. Há um caminho e há paredes em algum lugar por aí, mas teto, não, teto não existe. Vamos embora? Vamos?! Não há “nós” aqui, só “eu”, e “tu” distante como uma estrela longe do caminho. Nem no teto ela está!!! Nem no teto tu estás. Vultos podem ser vistos, mas não tocados. Os vultos não geram eco, eles provavelmente nem por perto estão. Não se deve criar ilusões a respeito desse caminho, ele deve ficar sendo apenas um caminho. Tropeços são comuns, já que está tudo escuro por aqui... E como as tochas se extinguem rapidamente, as mudanças do relevo são imperceptíveis. Quando se chega em algo que possa ser uma parede, aí o que acontece é estranho: sim, eu queria limites, mas agora penso melhor e essas paredes me limitam, me sufocam, não quero que acabe aqui. Para que acabar com a caminhada, se os meus olhos podem enxergar mais longe, e se eu tiver a tocha novamente? Foge-se das paredes e rapidamente o fogo da tocha acaba. O que isso significa? A luz que traz esse objeto é falsa, pois ela só funciona quando nos prendemos às paredes sólidas, que podem prender até nossos pensamentos. Quando nos afastamos das paredes, dos limites, a escuridão ressurge, a dúvida ressurge. E continuamos errantes, vagando e pretensiosamente acreditando que o fim do caminho chegará. Cada vez multiplica em muitas vezes a escuridão. Transtorna o interior e distorce as percepções e certezas sobre o caminho. O homem tenta correr, tenta rastejar e pode ser que essas duas movimentações tenham valor idêntico nesse percurso tão singular. Um passo e depois o outro, e o outro, todos podem ser o mesmo passo para o nada. O suor e o cansaço renovam as expectativas... Estou cansado, então devo estar chegando, devo estar no caminho certo, fazendo o percurso certo. Creio que não... Mais pessoas estariam perto de ti se estivesses percorrendo o caminho certo: estarias acompanhado. E quem te acompanha? O breu e só. Breu faz parte do jargão do viajante, que viajante ridículo. Ele é claustrofóbico em alguns momentos e agorafóbico na maior parte da jornada. Ele tem medo de tudo, esse homem, ele tem medo de si, medo de não achar nunca essas paredes confortáveis, medo de querer ver as estrelas por um breve momento quando acreditar ter encontrado as tais paredes que são ideais para ele. Ele se pergunta todo o tempo: “será que eu continuo caminhando ou paro agora?”


1 comentários:

Ale Leonhardt disse...

já te disse né... gostei do texto, ainda mais por ser um texto de estréia dessa qualidade.
e por que não há teto?
a solução é então redescobrir as asas e então fugir da escuridão?
ou a escuridão é inebriante demais para que se queira fugir dela?
*filosofias*

Postar um comentário